03/07/2014 10h35min - Geral
12 anos atrás

'Medo de acontecer de novo', diz mãe de dois filhos mortos por preconceito

Crueldade

G1 ► Cleonice se emociona ao lembrar de dois filhos mortos por preconceito

Odilo Balta / jornalcorreiodosul@terra.com.br
Fonte: Assessoria de Comunicação


O 14º dia de cada mês traz à tona a tristeza da dona de casa Cleonice Rocha da Silva, de Campo Grande. Dois dos seis filhos dela morreram vítimas de homicídio nessa data, um em janeiro de 2008 e outro em abril de 2014, ambos casos de preconceito em razão da raça negra das vítimas, segundo Cleonice. Esses crimes tornam evidente os números do Mapa da Violência 2014 - Os jovens do Brasil. Conforme o estudo divulgado pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais na quarta-feira (2), das 374 pessoas assassinadas em Mato Grosso do Sul, 206 eram afrodescendentes. "Tenho muito medo de acontecer de novo com os outros filhos. No primeiro crime, não imaginei que era esse motivo. Depois disso, de repente chega a notícia para mim de mais um filho morto. Me perguntei o porquê, então o delegado me disse que foi por racismo. Não dá nem para acreditar, a gente só acredita porque está sofrendo isso na pele. Só nós sabemos a dor que é", relatou Cleonice ao O filho caçula da dona de casa, Anderson da Silva Farias, na época com 19 anos, foi a primeira vítima a perder a vida por preconceito racial. A mãe conta que o rapaz foi atingido por tiros à queima-roupa, disparados pelo dono de uma padaria, ao passar em frente ao comércio do suspeito. O motivo principal, segundo Cleonice, seria o fato de Anderson ter um relacionamento amoroso com a sobrinha do suspeito. “Ele falava que a sobrinha dele não merecia casar com um preto, que merecia alguém melhor”, recordou. A dona de casa lembra que antes do crime, o suspeito já havia demonstrado diversas vezes o preconceito com pessoas negras, mas Cleonice não imaginava que a discriminação chegaria a um ponto extremo.