16/06/2014 09h45min - Polícia
11 anos atrás

Detentos com dinheiro têm regalias em duas penitenciárias brasileiras

Que isso Brasil ?

G1 ► Cozinha de ultima geração

Odilo Balta / jornalcorreiodosul@terra.com.br
Fonte: Assessoria de Comunicação


TVs de última geração, cozinha superequipada, churrasco com carne de primeira e dinheiro de sobra. Não, não estamos falando de turistas milionários que vieram ao Brasil se divertir na Copa. Estamos descrevendo a rotina de duas grandes penitenciárias brasileiras. Nessas cadeias, preso que tem dinheiro, tem tudo. Dois trechos de gravações telefônicas mostram o que acontece dentro da cadeia. Preso: Oi, linda. Namorada: Tô aqui no mercado. O que eu levo pra ‘tu’ comer? Preso: Leva uma carne boa. Namorada: Costela mesmo? Preso: Isso. Preso: Amanhã também tem um churrasco aqui. Bandido: Churrasco aí? Preso: Tem uns dois mil ‘espetinho’ que vai ter aqui ‘pra nóis’. Só espetinho de primeira, só com bacon, é queijo, só coisa boa. Os homens que você ouve nas ligações no vídeo acima, tranquilos, comprando carne, organizando churrascos, não estão livres. As escutas telefônicas foram feitas na Penitenciária de Aparecida de Goiânia, e no Presídio Central de Porto Alegre. Os homens que falam a vontade ao celular nem parecem criminosos que estão na cadeia. As gravações tiveram autorização da Justiça. No final de maio, o Ministério Público do Rio Grande do Sul apresentou denúncia contra 41 pessoas, envolvidas em uma quadrilha comandada por trás das grades. “Presídio Central, da porta para dentro, é comandado pelos presos”, afirma Ricardo Herbstrith, promotor de Justiça do Rio Grande do Sul. Segundo a investigação, os chefes de facções criminosas, dentro da cadeia, não organizam apenas churrascos. Também têm livre acesso a celulares e à internet. Imagens feitas do alto mostram um preso ao telefone. Em uma gravação, um dos bandidos chega a acompanhar, em tempo real, da cadeia, a entrega de dinheiro de tráfico de drogas na casa luxuosa de um dos chefes da quadrilha, preso na mesma penitenciária. Bandido: Estacionou ali e ele botou a chave ali, ‘tá’ ligado? Preso: Claro, eu ‘tava’ vendo ali pela câmera, meu. “Dentro do presídio, com smartphone, com 3G funcionando, acompanhava todas as câmeras de segurança da sua casa”, diz o promotor. Os chefes do crime comandam, cada um, uma galeria do Presídio Central. São chamados de “prefeitos”. “Tem vários cargos dentro da galeria. Um dia eu perguntei para um preso: ‘Está trabalhando na galeria?’, ‘Sim’, ‘Faz o que lá?’, ‘Eu sou ministro dos Esportes’”, conta Sidnei Brzuska, juiz da Vara de Execuções Criminais de Porto Alegre. Acompanhado pelo juiz responsável pela fiscalização da unidade, o repórter Giovani Grizotti visitou o presídio e entrou nas celas dos tais “prefeitos”. Ventiladores, aparelho de som, uma geladeira duplex com bastante comida, tem até iogurte e também achocolatado. Em outra cela, ventilador, TV de tela plana e uma geladeira duplex. Dentro dela, carne congelada, margarina, suco de fruta, mamão, café, ventilador, cama de casal, liquidificador e também aparelho de som. O dinheiro que sustenta tanta mordomia vem de roubos e tráfico. E também da extorsão de parentes de outros presidiários, geralmente pessoas presas pela primeira vez. “Ameaçava todo mundo lá de casa, meus filhos, mãe, todo mundo se não pagasse“, diz uma pessoa.